quinta-feira, 10 de agosto de 2017

ARTES | Artista plástica Marlene kirchesch é destaque em Festival Internacional de Arte Naïf na Polônia

Referência da arte Naïf mato-grossense, Marlene Kirchesch é uma das artistas brasileiras que está em evidência, expondo suas obras no maior festival de arte no mundo, que acontece desde junho e vai até o dia 18 de agosto, em katowice, Polônia.

Marlene Kirchesch é considerada, juntamente com outros grandes nomes da pintura do Centro-Oeste brasileiro, uma das mais ilustres artistas representantes da arte Naïf no Brasil, consagrada em Mato Grosso. (Foto/Arquivo Pessoal)
 Por Clóvis Assis 
Atores & Mídias


"Toda a obra de arte é a personalidade do artista, que vive nela, depois dela ter vivido um longo tempo dentro dele”. Esta frase do escritor colombiano Vargas Vila (1860-1933) ilustra bem a trajetória da artista plástica Marlene Kirchesch, cuja vida e a obra se complementam, como quem nasce da arte e para a arte vive.

Reconhecida internacionalmente, a artista paranaense radicada no Mato Grosso, está representando o Brasil no 9º Festival Mundial de Arte Naïf, que acontece desde 09 de junho em Katowice, cidade da Polônia, e permanece até 18 de agosto de 2017.

Referência da arte Naïf mato-grossense a artista, residente na cidade de Cuiabá/MT, foi convidada com mais 04 artistas do Estado para expor suas obras nesta exposição global – maior festival de arte no mundo –, em que mais de 190 artistas de 30 países participam.

(Foto/Arquivo Pessoal)
A mostra mundial de arte Naïf foi fundada em 2008, e é uma grande celebração internacional promovendo a arte popular, que ocorre sempre no verão europeu. A edição deste ano na Polônia termina em 19 de agosto. Neste evento Marlene apresenta obras que destacam a natureza, o cotidiano, a tradição cultural e a simplicidade do povo mato-grossense.

Tela: “Love birds araras in Amazônia” (Foto/Reprodução)
Marlene Kirchesch vive um dos melhores momentos de sua carreira ao participar deste evento global. É a consolidação da reconhecida artista, que tem trajetória biográfica consolidada em Mato Grosso, de onde projetou-se internacionalmente.

Seu estilo artístico autoral, relacionados com a vida no campo – pinturas de traços marcantes e cores brilhantes, que recriam a natureza, as pessoas, o cotidiano –, a levaram a participar de muitas exposições Nacionais e Internacionais, e que Já lhe renderam vários prêmios.

“Artista é aquele que consegue imortalizar o momento de inspiração”, diz Marlene.(Foto/Arquivo)
Nada é mais importante para Marlene do que contemplar a Natureza, com todas as vivas-cores, com seu cheiro e seus sabores. Apreciar o pôr do sol, se derreter com a canção dos pássaros, apreciar as cores vivas das flores e das matas, são singelos momentos que a inspiram como artista de corpo e alma.

“Amo a natureza e gosto muito de pintar o que ainda existe de belo nela. Gosto da água, da noite, dos bichos, das lendas dos causos que ouvia na infância", declara Marlene.


Marlene e sua mãe Carolina Kirchesch
(Foto/Arquivo Pessoal)
Nascida no seio de uma família simples, em Campo Mourão, norte do Estado do Paraná, desde menina meditava sobre a beleza da natureza, contemplando suas cores – "os tons do arco-íris, terra roxa, o verde das matas, o crepúsculo".

Isso despertara-lhe na alma o desejo ardente de (re)criar estas paisagens, para ela "tão vivas, tão coloridas, tão fascinantes”.

Ainda era pequena quando, no quintal da casa, começava a borrar os primeiros traços. Na areia rabiscara os primeiros desenhos, esboçando a paisagem que, de tão bela, encantavam-lhe os olhos e inspiravam suas fantasias de criança. 

Era sua brincadeira favorita: desenhar na terra e depois colori-las com a imaginação. “Acho que já nasci com o dom da arte. Andei, falei com nove meses de idade; e com cinco já escrevia e lia – e também desenhava”, recorda ela. No período escolar já se destacava dentre os colegas, pelo dom artístico. Desenhava qualquer coisa que os professores lhe pediam.

No ambiente familiar conviveu com Bernardo, um artista de origem portuguesa, filho de seus padrinhos de batismo. “Ficava impressionada pelos desenhos, pinturas e inventos práticos criados por ele”, diz ela entusiasmada. “Sempre gostei de arte, gostava de cantar com as freiras e desenhar na escola, na areia, nas paredes... ainda na infância brincava de professora, desenhando, incentivando os alunos a pintar”, relembra.


Seu primeiro emprego, como professora do Jardim de Infância, foi fundamental para a percepção do mundo infantil. E com seu jeito autodidata de recriar imagens com “a ingenuidade do olhar, de como uma criança vê o mundo”, já evidenciava o estilo Naïf de expressar arte, que anos mais tarde a consagraria.

Marlene começou a destacar-se no movimento cultural em Rondonópolis, cidade polo da região Sul do Mato Grosso, (Foto/Reprodução)
Após casar-se, com 16 anos, em 1981 mudou-se para a cidade de Rondonópolis, interior do Mato Grosso, com dois filhos pequenos e uma série de complicações de saúde.

O despertar profissional de artista  veio mesmo com sofrimento e a dor, quando suportou uma enfermidade, que a deixou cerca de 40 dias hospitalizada. Em coma clinico mergulhou em sono profundo e, ao despertar, fez de sua arte a sua própria vida. "Tive morte clinica", conta Marlene. "Foi ai que os anjos me ensinaram a pintura. Então decidi comprar materiais (tintas, cavaletes, aquarelas, pincéis, telas...) e não parei mais de pintar", emociona-se.


Tela: “Night in the Amazon (Foto/Reprodução)
Artista autodidata, inicialmente percebera que não se encaixava nos padrões acadêmicos, catalogados nos livros de História da Arte, até então. "Na verdade pensei que havia ficado de fora dos padrões. Sabia que o que pintava era bom, pois me identificava com as pinturas de Henri Rousseau, Vicent Vann Gogh e Gustav Klimt, principalmente pelas cores fortes e vivas", conta.


Quando começou a destacar-se no movimento cultural local em Rondonópolis, cidade polo da região Sul do Mato Grosso, suas telas chamaram a atenção de especialistas e críticos brasileiros, que a priori a conceituaram como pintora primitiva e/ou artista ‘naïve’.

O estilo Naïf (ingênuo) presume a existência, por contraste, de uma forma de arte acadêmica, 'não-ingênua, mas consciente', de executar uma obra artística. O termo Naïf pertence à pintura de artistas sem formação acadêmica e expressam o cotidiano.

Tela: “Jaguar and Regal Victories in the Amazon (Foto/Reprodução)
O reconhecimento, como artista plástica de arte Naïf, aconteceu quando entrou no Salão Jovem Mato-grossense em 1989, atestada por críticos conceituados, como Luiz Ernesto Kawall, crítico da Associação Paulista de Críticos de Arte e da Associação Brasileira de Críticos de Arte. Foi um marco determinante para a sua identidade na carreira profissional, o que lhe conferiu importância no ranking dos artistas brasileiros mais conceituados.

Em 1990 suas primeiras obras lhe conferiram o Prêmio Aquisição na Mostra Internacional de Arte Naïf, no Sesc Piracicaba/SP. No ano seguinte, ao ser convidada para expor na criação da Bienal Naïf, foi novamente premiada.


Também recebeu o Premio Monção Honrosa, pela Mostra Pinte Chapada dos Guimarães - 500 anos de América, e em 2000 foi laureada com o prêmio Artistas do Século em Mato Grosso.

Consagrou-se internacional ao mostrar suas obras, por duas vezes, nos Estados Unidos: a primeira  em novembro de 2005, no evento Mato Grosso State Cultural Fortnight in Washington/DC, no centro cultural de um órgão do Itamarati conhecido como Brazilian-American Cultural Institute. E, logo depois, na Mostra Artistas de Mato Grosso em Nova Iorque-Casa Brasil.

Exposição “Naïf – a Arte Livre das Convenções”, no Espaço Cultural Zanine, em Búzios/RJ. (Foto/Reprodução)
Recentemente, em junho de 2017, Marlene participou da Exposição “Naïf – a Arte Livre de Convenções”, no Espaço Cultural Zanine, em Búzios/RJ

Neste mesmo mês, ela estreou várias obras no atual Festival Mundial de Arte Naïf, da Polônia, com reconhecimento internacional, dentre renomados artistas do mundo inteiro. A mostra global, que está em cartaz desde junho, vai até 19 de agosto.
Hoje, Marlene Kirchesch é considerada, juntamente com outros grandes nomes da pintura do Centro-Oeste brasileiro, uma das mais ilustres artistas representantes da arte Naïf no Brasil, consagrada em Mato Grosso.

Seu trabalho contribui significativamente para o atual movimento histórico da arte Naïf brasileira, cuja categoria surgiu na virada do século XIX, para identificar a obra de Henri Rousseau, pintor autodidata admirado pela vanguarda artística dessa época, que incluía gênios como Picasso, Matisse e Paul Gauguin, entre outros.

Com esta gênese, a Arte Naïf começou a afirmar-se como uma corrente que aborda os contextos artísticos de modo espontâneo e com plena liberdade estética e de expressão. E os seus seguidores definem-na hoje como 'a arte livre de convenções'.

Alguns críticos afirmam que, contrastando com os 'acadêmicos', que pintam com o cérebro, os 'ingênuos' pintam só com a alma. Esta é a verdadeira essência de Marlene Kirchesch, claramente o estilo de quem já nasceu com o dom de artista e predestinada a encantar o mundo com sua arte!

Por Clóvis Assis 
>Com Colaboração:
Guapo Milton Pereira de Pinho
em Cuiabá/MT

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