domingo, 5 de novembro de 2017

ASPAS | Augusto Boal: "No teatro da vida somos todos atores"

“Todos os seres humanos são atores - porque atuam - e espectadores - porque observam” escreveu o diretor Augusto Boal (1931/2009*) em uma mensagem enviada pelo Instituto Internacional do Teatro no ano de sua morte, cujo excerto publicamos a seguir.
Blog Atores & Mídias, por Clóvis Assis e Márcia Regina:
“Todos somos protagonistas da nossa própria história”.

"ASPAS | Por Augusto Boal*
Com: www.revistaplaneta.com.br


"O TEATRO NÃO é apenas um acontecimento, é um modo de vida. Embora muitas vezes não tenhamos consciência disso, as relações humanas são estruturadas de modo teatral: o uso do espaço, a linguagem do corpo, a escolha das palavras e da modulação da voz, a confrontação das ideias e das paixões...”

"...Tudo o que fazemos sobre o palco, fazemos também nas nossas vidas: o teatro somos nós!”

"Uma das principais funções da arte do teatro é trazer à nossa consciência os espetáculos da vida cotidiana onde palco e salão, atores e espectadores se confundem”.

"Somos todos artistas: ao fazer teatro, aprendemos a ver essas coisas que saltam aos nossos olhos, mas que não podemos ver, a tal ponto estamos pouco habituados a olhar".

“O teatro é a verdade escondida


(Foto: arquivo/Jornal O Globo/internet) 
"Em setembro, fomos surpreendidos por uma revelação teatral: nós, que pensávamos viver num mundo seguro, apesar das guerras, dos genocídios, das hecatombes e das torturas que existiram e existem, claro, porém longe de nós, em terras distantes e selvagens; nós, que vivíamos em segurança com nosso dinheiro aplicado num banco respeitável ou nas mãos de um honesto corretor da bolsa, fomos informados que esse dinheiro era apenas virtual... 

"...Uma ficção de mau gosto proferida por alguns economistas nada fictícios, e também nada seguros nem respeitáveis. Tratava-se de um teatro ruim, de uma intriga sinistra na qual uns poucos ganham muito e muitos perdem tudo. Políticos de países ricos mantiveram reuniões secretas, inventando soluções mágicas. “E nós, vítimas de suas decisões, permanecemos simples espectadores, sentados na última fila do balcão do teatro.

“Uma das principais funções da arte do teatro é trazer à nossa consciência os espetáculos da vida cotidiana em que palco e salão, atores e espectadores se confundem"

“Há 20 anos, montei Fedra, de Racine, no Rio de Janeiro. Os cenários eram pobres: couros de vaca atirados no chão, varas de bambu delimitando os arredores. Antes de cada representação, eu dizia aos atores: ‘a ficção que criamos no dia a dia terminou. Quando vocês tiverem ido para além desses bambus, não terão mais o direito de mentir. O teatro é a verdade escondida’.

“Quando olhamos para além das aparências, vemos opressores e oprimidos, em todas as etnias, classes e castas sociais; vemos um mundo injusto e cruel.

“Temos de inventar um outro mundo, pois sabemos que um outro mundo é possível. Mas toca a nós construí-lo, com nossas próprias mãos, entrando em cena, sobre os palcos e em nossas vidas.

“Somos todos atores: ser cidadão não significa viver em sociedade; significa mudar a sociedade”.


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Biografia: 

Augusto Pinto Boal (1931/2009) 
Boal recebe o Crossborder Award for Peace and Democracy no Abbey Theatre. Dublin, 2008. (Foto: AnnMari - Originally posted to Flickr as Augusto Boal - commons.wikimedia.org)
Augusto Pinto Boal (Rio de Janeiro, 16 de março de 1931 — Rio de Janeiro, 2 de maio de 2009) foi diretor de teatro, dramaturgo e ensaísta brasileiro, uma das grandes figuras do teatro contemporâneo internacional. Foi a principal liderança do Teatro de Arena de São Paulo, na década de 1960.

Fundador do Teatro do Oprimido, que alia o teatro à ação social, suas técnicas e práticas difundiram-se pelo mundo, de maneira notável nas três últimas décadas do século XX, sendo largamente empregadas não só por aqueles que entendem o teatro como instrumento de emancipação política mas também nas áreas de educação, saúde mental e no sistema prisional.

O dramaturgo é conhecido não só por sua participação no Teatro de Arena da cidade de São Paulo (1956 a 1970), mas sobretudo por suas teses do Teatro do oprimido. Nas palavras de Boal o Teatro do Oprimido é o teatro no sentido mais arcaico do termo. “Todos os seres humanos são atores - porque atuam - e espectadores - porque observam. Somos todos 'espectatores”.

Sua obra escrita é expressiva.
Com 22 livros publicados e traduzidos em mais de vinte línguas, suas concepções são estudadas nas principais escolas de teatro do mundo. O livro Jogos Para Atores e Não Atores trata de um sistema de exercícios ("monólogos corporais"), jogos (diálogos corporais) e técnicas teatrais além de técnicas do teatro-imagem, que, segundo o autor, podem ser utilizadas não só por atores mas por todas as pessoas. (Wikipedia.org/wiki/Augusto_Boal)

>> LEIA também: 
em www.funarte.gov.br
Augusto Boal: uma trajetória revivida*
"Criador do Teatro do Oprimido, o grande dramaturgo (1931-2009) tem seu legado relembrado neste vídeo, com narração do ator Paulo José e depoimentos de Lima Duarte, Milton Gonçalves e Helen Sarapeck."
*Por André Gomes 
LElA em: www.funarte.gov.br