terça-feira, 21 de agosto de 2018

DANÇA | Núcleo Arcênico de Criações questiona os caminhos da Fé 'que acostumou a falhar', em novo espetáculo

Sucesso de público e crítica a estreia do  espetáculo de dança e teatro, dirigido por Alexandre Manchini Jr, com os bailarinos Vinícius Francês e Clarissa Maria, repercute nas redes sociais ao abordar questões como: 'a fé que mata' ou 'a fé que salva?'. Após a encenação no sábado (18), no Teatro do Sesc, o NAC inicia nova temporada de oito apresentações na segunda quinzena de setembro, no Graneleiro da Swift, em Rio Preto (SP).

‘A Fé que Acostumou a Falhar’ é um espetáculo de dança, com ramificações na performance e no teatro, do Núcleo Arcênico de Criações, de Rio Preto-SP (Foto: Divulgação)
🎬   por Clóvis Assis      
 A t o r e s  &  M í d i a s

“FÉ: ter ou não ter?”, eis a questão! "Como manter a fé no humano, frente às mais diversas barbáries contemporâneas, provocadas exatamente pela fé?”, argumenta o Núcleo Arcênico de Criações (NAC) no espetáculo 'A Fé Que Acostumou a Falhar', encenado no último sábado (18/08), no Teatro do Sesc Rio Preto (SP). 

 apresentação neste fim de semana, em parceria com o Sesc, e com o incentivo do Proac, foi uma avant-premiére para o início da Temporada 2018, que estreia oficialmente na segunda quinzena de setembro, com oito apresentações no Graneleiro da Swift, em Rio Preto (SP).

'A Fé Que Acostumou a Falhar' é uma superprodução de dança e teatro (linguagens que o NAC pesquisa desde 2012).


Neste novo trabalho a trupe rio-pretense propõe investigar os caminhos e amplitude da palavra 'FÉ', que em pleno século XXI ainda é um tema bastante discutido e questionado pela humanidade.

Contudo o espetáculo propõe-se a provocar e a questionar mais do que a responder qualquer pergunta a respeito da

“Desde seu espectro renovador de alento e resiliência, até as trincheiras do extremismo e da violência contra as divergências e as minorias”, explica o bailarino e diretor Alexandre Manchini Jr, que também atua no espetáculo.

Ao palco, Machini Jr. contracena com os bailarinos-atores Vinícius Francês e Clarissa Maria, que se entregam de corpo e alma às experiências dos persona
gens, transitando "desde a castração e padronização imposta aos corpos, até sua libertação". Convictos das próprias crenças relacionadas a fé, verdadeiramente se doam às cenas, sôfregos, numa explosão de movimentos e sentimentos— “como se questionassem a própria fé e não a fé do outro”. 

A cada coreografia, a cada movimento e a cada respiração, o elenco remete a plateia à dicotomia central do espetáculo, levantando algumas das principais questões da dramaturgia, tais como: “a fé que nos salva”“a fé que nos mata”

'A Fé que Acostumou a Falhar' (Foto: Reprodução/Instagram)
DE ACORDO com o Manchini Jr., a 'fé que nos salva' nos dá respaldo e energia para seguir em frente e a perseverar. 
Cenografia assinada por Jorge Vermelho, leva ao
palco 1.500 tijolos (Foto: Reprodução/Instagram)

“A Fé que nos salva nem sempre é de natureza religiosa”, argumenta o bailarino. 

Já a segunda questão, a 'fé que nos mata', para ele soa como uma 'desordem'. 

“Um levante que, em sua maioria mistura doutrina religiosa e doutrina política eleitoral e que tem promovido uma crescente onda de violência no país e no mundo”, explica. 

A partir destes embates e atritos, os três artistas atuam sobre uma arena cenográfica
construída com 1.500 tijolos pó de mico, desencadeando cenas e coreografias, que “transitam desde a castração e padronização imposta aos corpos, até sua libertação”

Nestes contextos da dramaturgia proposta, segundo o conceito do grupo 'falar da pluralidade da fé mostra-se uma berlinda contemporânea'. 


“Afinal entre a inércia pacífica e o combate ao extremismo violento, a medida é incerta. Pois quando se trata desse mercado de doutrinas, é essencial libertar-se”, completa o diretor. 


SUCESSO DA ESTREIA REPERCUTE NAS REDES SOCIAIS

O BAILARINO Vinícius Francês compartilhou com os seguidores nas redes sociais o sucesso da estreia com o teatro lotado, reverenciou os aplausos da plateia, e agradeceu pelos cumprimentos recebidos após o espetáculo. 

"(...) Sempre uma alegria iluminar e perceber uma obra junto ao público. Re-olhar o espetáculo agora alimentado pelos dizeres e devolutivas de todos e todas que puderam ir. (...) Feliz também de escutar e sentir os amigos e amigas de luta dizerem-se contemplados e emocionados com o trabalho", postou ele, no Facebook, destacando a reportagem publicada na capa do Vida & Arte, do Diário da Região. (Confira abaixo).



A ATRIZ rio-pretense Vanessa Cornélio (protagonista do premiado "Cérebro de Elefante") esteve na plateia ao lado de familiares, que aplaudiram entusiasticamente o espetáculo. "levei mãe e prima que não são regulares no teatro, uma experiência nova para elas, mas que se concretizou em altas reflexões na volta para casa", comentou a artista em post no Facebook.

Talita Carvalho também expressou na rede social as emoções catárticas, provocadas pelo espetáculo. "Uma experiencia inexplicavelmente visual, sensorial e bastante emocional!", publicou. (Veja as postagens logo abaixo). 






POR QUE FALAR SOBRE A FÉ QUE FALHA? 

'A FÉ QUE Acostumou a Falhar' é um espetáculo de dança, com ramificações na performance e no teatro. A trupe de artistas do Núcleo Arcênico de Criações propõe, por meio desta produção, ‘um olhar que atravessa a compreensão de fé, na atualidade’. 

Alexandre Manchini Jr.
(Reprodução/Facebook)

“Como ‘manter a fé’ no humano frente às mais diversas barbáries contemporâneas provocadas, exatamente pela fé?”, questiona Alexandre Manchini Jr. 


Segundo o diretor e bailarino, "paulatinamente o número de pessoas unidas pela ‘fé contra algo’ parece aumentar frente às pessoas unidas pela ‘fé em algo’".

Ele afirma que os telejornais e a internet "transbordam notícias de violências variadas" contra todos aqueles que se distanciam do modelo do “totem no centro da praça”. 


Foi a partir desta metáfora (do 'Totem no Centro da Praça'), que o Núcleo Arcênico de Criações deu origem aos argumentos deste novo projeto. "Mesmo sendo uma visão social pessimista, este foi o texto argumentativo que originou os debates do projeto e, dentro do recorte do tema “fé”, nos trouxe até essa praça/arena de tijolos!", afirma.

A trupe de artistas criadores do NEC acredita que entre a realidade insistente e as metáforas/análises sociológicas há um lugar tangível às transformações, em que o debates dão lugar a sensação, fruição e transformação. “Se no senso comum todos querem ser Totens e caminhar para o Centro, é, exatamente nesta possibilidade de caminhar do centro para a margem que a arte abre espaço e relevância”.

“Pois foi no centro da praça que a minha fé falhou. E foi neste caminho contrário que minha fé, acostumada a falhar, se reacendeu”, contextuou o diretor em entrevista ao Blog Atores & Mídias


ESTE é o quarto espetáculo do repertório do Núcleo Arcênico de Criações. Assim como o primeiro espetáculo Cana.ã (de 2012), "A Fé..." é dirigido pelo fundador do Núcleo Alexandre Manchini Jr. em parceria com Roger Valença (que dirigiu 'Coágula') e a assessoria de direção do encenador Jorge Vermelho (que dirigiu 'Quero Ser Preto'). Vermelho também responde pela cenografia e sonoplastia do espetáculo

Além desta parceria, o trabalho conta com o olhar de Luiz Fernando Bongiovanni 
coreógrafo paulistano que possui um trabalho reconhecido no país e no exterior e, também com as propostas do teatrólogo Homero Ferreira, no ‘dramaturgismo’ da obra.

No perfil do NAC no Facebook o diretor Alexandre Manchini Jr. agradeceu aos artistas e técnicos, parceiros do projeto, e também desabafou das dificuldades em se fazer arte no Brasil. "Produzir arte no país não é um caminho fácil! Posicionar-se frente à realidade insistente menos ainda! (...) com a ajuda de muito mais gente, onze pessoas lançaram no mundo uma tentativa disso! (...)", escreveu ele.

E acrescentou: "(...) Este núcleo de pesquisa e criação em artes tem uma enorme gratidão pela sensibilidade, esforço, disponibilidade e profissionalismo de todos vocês. Que a arte possa continuar criando fissuras e rachaduras nesses tijolos postos sobre nossas cabeças! Resistir sempre, temer jamais!". (Leia a declaração na íntegra no post abaixo).




>SERVIÇO+
'A FÉ QUE ACOSTUMOU A FALHAR'
Núcleo Arcênico de Criações


>TEMPORADA 2018  | Oito apresentações

Estreia na segunda quinzena de setembro
Local: Graneleiro da Swift
São José do Rio Preto (SP)
Classificação: 16 anos

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#aféqueacostumouafalhar
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