quinta-feira, 5 de dezembro de 2019

TEATRO | Numa 'casa invisível' cinco atores vivem momentos de som e fúria, em novo espetáculo do diretor Jef Telles

Em coprodução com cinco companhias rio-pretenses, os artistas Alexandre Manchini, Angélica Zignani, Cassio Henrique, Murilo Gussi e Tiago Mariusso estreiam a peça 'Teatrópolis – A Casa de Noz' neste domingo (8/12), na Represa Municipal de Rio Preto (SP).

'Teatrópolis - A Casa de Noz', novo trabalho do Núcleo 2. (Foto: Jorge Etecheber)
 Clóvis Assis           
A t o r e s  &  M i d i a s 
➯05/12/2019, 23h10

"O QUE SE VÊ é uma casa de paredes invisíveis que reflete o que há do lado de fora", declara Jef Telles, diretor do espetáculo 'Teatrópolis – A Casa de Noz', nova produção do Agrupamento Núcleo 2, que estreia neste domingo (8/12), às 18h, na Represa Municipal em São José do Rio Preto (SP).

Em cena, confinados dentro de uma casa invisível, um quinteto de artistas atores, cantores e bailarinos de 5 companhias rio-pretenses se submetem à ações inquietantes e experiências emocionais e psicológicas.

A 'casa invisível' é habitada por seres que mais se parecem com uma velha engrenagem, e cujas ações se desenrolam na medida em que o enredo ganha estímulos. O resultado desse espetáculo é a mistura das artes visuais, música, dança e performance.

Concebida e dirigida por Telles, a peça é protagonizada pelos atores Cassio Henrique (Núcleo 2), Angélica Zignani (Cia. dos Pés)Murilo Gussi (GAL - Grupo de Apoio a Loucura); Tiago Mariusso (Cia. Ir e Vir) e Alexandre Manchini (Núcleo Arcênico de Criações).

O projeto, produzido pelo Agrupamento Núcleo 2foi contemplado pelo edital municipal de incentivo cultural, na edição 2019 do Prêmio Nelson Seixas, realizado por meio da Secretaria Municipal de Cultura de São José do Rio Preto (SP).
Piloto de 'Teatrópolis', do Núcleo 2 (Foto: Jorge Etecheber)
'A obra recria um olhar ao interior do humano; análogo ao momento social e político do país', diz Telles

POR MEIO de personagens que se misturam entre bichos e seres humanos, 'Teatrópolis...' busca fazer um paralelo simbólico com o modo de vida do indivíduo atual ―monitorado por câmeras urbanas, dispositivos móveis e o embrutecimento do mecanismo social.

"À casca de noz, rija e quase inquebrável, onde ao mesmo tempo em que protege o seu fruto, também o aprisiona", conceitua o diretor Jef Telles, responsável pela concepção e direção geral da obra. 

Ele conta que a 'casa invisível' foi concebida a partir do desenho de uma planta baixa criada pelos arquitetos Cintia Cotes e Léo Bauab, que assinam a direção de arte. 

Na construção do espetáculo, os atores ocuparam os ambientes dessa casa invisível trazendo seus processos de pesquisas, inquietações e possibilidades criativas. "Nos cômodos demarcados no chão, as personagens delinearam ações que dialogam com a arquitetura, o controle e o cotidiano da cidade", diz.

Telles explica que o enredo da peça usa o emblema da morte para falar da vida, do controle, das coisas que se plantam, das escolhas que não se fazem e das paredes invisíveis onde habita cada um. 

O espetáculo recria um olhar ao interior do humano. Análogo ao momento social e político do país, corpos estranhos atuam como uma engrenagem dentro do ciclo da vida”, completa o diretor. 
'Teatrópolis', do Agrupamento Núcleo 2 (Foto: Vitão Natureza)
'O processo dramatúrgico de Teatrópolis passou por vários estágios', conta Telles 

O ASSISTENTE de direção e provocador, Alexandre Manchini, do Núcleo Arcênico de Criações, trabalhou com improvisos e a preparação corporal. Gradativamente, as cenas criaram unidade dentro do conceito proposto.

O projeto teve como ponto de partida a veia experimental do grupo Fluxus, movimento que marcou as artes das décadas de 1960 e 70, opondo-se aos valores burgueses, às galerias e ao individualismo. 

Valorizando a criação coletiva, esses artistas integravam diferentes linguagens como música, cinema e dança, manifestando-se principalmente através de performances, happenings, instalações, entre outros suportes inovadores para a época. 

O nome Fluxus (do latim flux, significa modificação, escoamento, catarse) era, em princípio, o título de uma revista. Posteriormente, passou a designar as performances organizadas pelo artista lituano radicado nos Estados Unidos, George Maciunas (1931-1978), criador do grupo.
Dramaturgia de Teatrópolis passou por vários estágios. (Foto: Divulgação)
“O processo dramatúrgico de Teatrópolis passou por vários estágios”, continua Telles. Segundo ele, inicialmente, os grupos poderiam trazer fragmentos de cenas de espetáculos já existentes ou o experimento de novas possibilidades. 

“Acredito que temos um misto dessas duas categorias. A partir do conceito das suas criações aliado à estrutura do projeto, as cenas foram sendo criadas a partir de exercícios. A provocação prática solidificou a proposta e naturalmente o trabalho foi criando unidade. Ao final, poucos ajustes dramatúrgicos tiveram que ser feitos.”

No espetáculo, a música funciona como elemento de atração, representado pelo trombone e saxofone (Maurício Zacarias), instrumentos que exigem naturalmente uma execução cênica, e a percussão (Filipe Murbak). 

A construção musical é essencialmente feita com improvisos, tendo como referência o artista minimalista John Cage, que com sua música fez parte do Fluxus.
PILOTO:
'Transpor os limites da linguagem é sempre um arriscado e delicioso desafio', afirma o diretor


Em 2016, o Agrupamento Núcleo 2 realizou, com a parceria do Sesc Rio Preto, um piloto do projeto “Teatrópolis”, produzido no jardim externo da unidade, misturando linguagens, artistas e técnicos. 

“Na primeira edição, o espetáculo tinha um caráter de confraternização e, ao mesmo tempo, reflexão sobre a arte e a brevidade da vida. Agora, dentro de uma casa invisível, continuamos a discussão, sob outras esferas e turbulências. O grande ponto em comum é a escolha de trabalhar com grupos ao invés de artistas”, explica o diretor.

Os grupos convidados para o projeto atual foram escolhidos de acordo com a diversidade temática, o engajamento em suas produções, a criatividade das montagens e a verticalização de suas pesquisas. 

 “Teatrópolis, contudo, é sempre uma reunião da arte, um projeto que propõe experimentar a troca fluente de linguagens e entrosar os processos criativos. O resultado é, acima de tudo, uma reflexão ao próprio fazer teatral.”

Todas as cenas do espetáculo podem ser desdobradas e apresentadas no universo da performance e até mesmo das artes visuais. 
"Durante o processo, houve várias vezes o desejo de adaptar a obra para a linguagem do cinema. Transpor os limites da linguagem é sempre um arriscado e delicioso desafio ao Núcleo 2.”
SOBRE O NÚCLEO 2

O Agrupamento Núcleo 2 nasceu em 2006 e desenvolve sua pesquisa desde 2011, envolvendo a fusão de diversas linguagens artísticas dentro do campo das artes cênicas. 

Seu primeiro trabalho nesse âmbito, “Processo: Metamorfose”, consistia na apresentação de uma intervenção urbana e a sua captação audiovisual, transformando uma narrativa em outra. 

Em 2013, o grupo apresenta “Quadrado”, espetáculo multimídia experimental, seguido do ambicioso “Ensaios para Ninguém” [2015], uma série de 11 encontros envolvendo a zona urbana e rural da cidade e mais de 50 artistas. 

Em 2016, o grupo realiza, com a parceria do Sesc Rio Preto, a primeira edição de “Teatrópolis”. Seu último espetáculo foi “Galeria para Cemitérios” (2018 - ProAC Artes Integradas).

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⏩SERVIÇO:
'Teatrópolis – A Casa de Noz' 
com Agrupamento Núcleo 2

➧Dia 8/12, domingo, 18h, 
Represa Municipal (em frente ao Hospital AME). 
➧Dia 13/12, sexta-feira, 18h, 
Praça Dom José Marcondes. 
São José do Rio Preto/SP. 
➧Grátis. Livre. 
➧Duração: 70 minutos.


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